Santiago Ferreira Pinto Rocha & Lourenço Advogados

Modelagem de Negócios Aplicada ao Lançamento de Carreiras Artísticas

Conforme vimos no artigo anterior sobre o tema “Lançamento de Carreiras Artísticas”, o primeiro cuidado que um artista ou profissional do entretenimento deve ter, ao lançar-se no mercado cultural, é realizar, prioritariamente, o correto registro de sua obra intelectual. O registro assegura ao artista o direito que todo criador de uma obra intelectual tem sobre sua criação. Trata-se de um direito personalíssimo, expresso no artigo 5o, inciso XXVII, da Constituição Federal de 1988.

Feito este aparte, cabe-nos deixar evidente que o lançamento de uma nova carreira artística, em qualquer dos segmentos culturais existentes, não depende mais exclusivamente da qualidade do artista ou de sua criação. Pelo contrário, a cada dia a carreira artística ou do entretenimento vem se transformando em uma operação profissional complexa e arriscada, que exige planejamento, uma perfeita execução/gestão, monitoramento dos resultados e, principalmente, análise e mitigação contínua dos riscos.

Termos como ROI (Return on Investiment) e EBTIDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization), “fluxo de caixa” e “demonstração de resultados” começam a fazer parte do vocabulário dos empreendedores artísticos e culturais, quando da construção do modelo de negócio que irá orientar as suas carreiras. Hoje, não há mais espaço para amadorismo. O mercado é cruel e se movimenta de forma muito rápida. Os investidores começam a exigir modelos bem estruturados e profissionais, que permitam a análise dos riscos envolvidos, do retorno do capital investido, dos objetivos e metas traçados, do modelo de gestão e dos profissionais envolvidos.

Segundo a Professora Linda Applegate, da Harvard Business School, “O Modelo de Negócios define como a organização interage com seu ambiente para definir sua estratégia, atrair recursos, desenvolver as capacidades necessárias para suportar a execução estratégica e criar valor para todos os stakeholders.”. O modelo de negócio, portanto, constitui uma ferramenta para tomada de decisões sobre oportunidades a serem perseguidas, negócios (músicas, por exemplo) para lançar ou comprar, atividades para realizar, talentos para contratar e, principalmente, como as organizações devem se organizar para entregar valor às partes interessadas. Também, o modelo de negócio expõe as escolhas estratégicas que irão determinar as oportunidades que deverão ser perseguidas, além de dimensionar o potencial de mercado dessas oportunidades. 

Em suma, as decisões estratégicas definirão as fontes principais de receitas do negócio, o seu potencial de crescimento para os próximos anos, as capacidades e recursos necessários para investir em equipe de vendas, marketing, sistemas de informação, infraestrutura, dentre outros, visando a executar as estratégias e alcançar os objetivos traçados.

Todas as organizações, inclusive aquelas de natureza cultural, desejam alcançar o sucesso, seja pelo aspecto financeiro, seja pelo reconhecimento público de sua importância. Porém, são poucas as que se preocupam com as ferramentas e processos para alcançarem este objetivo. A maioria delas parte de uma ideia ou de uma oportunidade para construírem suas operações, mas acabam se perdendo pela falta de direção ou por serem absorvidas pelas rotinas do dia a dia. Muitas vezes, as próprias demandas de natureza jurídica que uma carreira artística ou do entretenimento naturalmente geram acabam sendo negligenciadas pelos empreendedores, que depositam 100% de suas energias e foco na atividade fim. 

No entanto, o preço que se paga por essa falta de organização jurídica pode acabar sendo a própria carreira. Ou o fim dela. É preciso ter um caminho, uma visão de futuro bem constituída e entendida por todos. O planejamento estratégico passa a ser então uma ferramenta imprescindível para esse fim.

Eduardo Campelo

Advogado

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